O desperdício alimentar é manifestamente um tema de dimensão global à medida que os padrões de vida nos países em desenvolvimento são melhorados e muitas das dietas alimentares nos países desenvolvidos alteraram-se para alimentos mais perecíveis.
A FAO (Food and Agriculture Organization) das Nações Unidas calculou que se o “desperdício alimentar” fosse um país, então ocuparia o 3º lugar na pegada de carbono (FAO-2013).
Enquanto que nos países desenvolvidos o desperdício alimentar é encarado como uma perda de recursos e económica, no mundo em desenvolvimento significa a privação de alimentos básicos às populações mais carenciadas. O problema é mais do que a possibilidade de proporcionar alimentos às populações subnutridas do mundo: é também uma oportunidade de poupar recursos como água, terras, energia e reduzir a emissão de gases nocivos que são usados para a produção de alimentos que simplesmente serão desperdiçados no final da cadeia.
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A Distribuição Alimentar aborda certamente o tema através duma visão holística de toda a Cadeia de Abastecimento, desde a produção agrícola até à operação da rede de lojas, tendo em conta as interfaces operacionais com os Fornecedores, a gestão do Transporte Primário e Secundário e todos os processos de warehousing. |
A Logística Inversa que por vezes tende a ser vista como um custo que poderá ser reduzido, assume um papel de relevo para este tema.
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Os canais de retorno desde as lojas até aos centros de distribuição e mesmo aos fornecedores, têm de contemplar agora processos que permitam o transporte em condições das mercadorias devolvidas, os fluxos de separação entre produtos ainda em condições de consumo e os dirigidos para doação para bancos alimentares ou instituições sociais e por fim entrega em centros de valorização energética.
Nos vários fluxos de mercadoria que integram a cadeia logística do Retalho Alimentar, realço algumas áreas que embora possam sugerir que são passos menores face à dimensão global do problema, darão certamente um contributo para que a Supply Chain de cada distribuidor possa ter o seu papel para a diminuição do desperdício na respetiva cadeia. |
Entre outros aspetos, destaco:
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Termino com a referência de algumas das ideias apresentadas pela Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (US Environmental Protection Agency) que sintetiza o desenvolvimento de uma cultura de recuperação de alimentos através de uma Hierarquia de Recuperação Alimentar: dá primazia à implementação de processos de recuperação na fonte, desde a produção e a negociação com fornecedores (packaging, volumes mínimos, lead-time de entregas e outros) e apresenta a necessidade de diminuir os movimentos de mercadoria destinados à incineração ou deposição em aterro. A meio do processo entre estes 2 extremos, esta hierarquia aborda os aspetos relacionados com a doação de alimentos, a alimentação animal, o uso industrial e as áreas de compostagem e valorização energética.
O tema certamente não se esgota nestas áreas que abordo e merece e deve estar presente na gestão da logística dos vários sectores.