Será importante ter presente algumas noções básicas e enquadramento histórico do tema. O vírus influenza (da gripe comum) tem 3 tipos (a, b e c) dos quais o tipo a circula em populações humanas em vários subtipos, resultado de frequentes mutações. A primeira pandemia gripal documentada, remonta a 1580 na ásia e europa e desde então ocorreram cerca de 3 pandemias por século causadas por diferentes subtipos deste vírus. O século XX ficou marcado pela gripe-espanhola (1918-19), causada pelo subtipo h1n1 que afetou na época cerca de 20 a 30% da população mundial e causou 25 a 40 milhões de mortes. A gripe asiática (1957-58) e a gripe de Hong Kong (1968), originadas respetivamente pelos subtipos h2n2 e h3n2, provocaram em conjunto 4 milhões de mortes.
A OMS regista a ocorrência duma pandemia, quando se verificam 3 condições: a circulação dum novo subtipo de vírus, a possibilidade de este provocar infeções em seres humanos e a sua capacidade de se transmitir de pessoa a pessoa.
A partir de 1997, o mundo já global que conhecemos, deparou-se com a gripe das aves (subtipo h5n1) que embora tenha sido essencialmente um problema de saúde veterinária, este vírus que circulou entre as aves conseguiu transpor a barreira inter-espécies e provocou uma taxa de mortalidade de 46% das pessoas infetadas. Foram tomadas agressivas medidas de controlo aviário (abate de mais de 140 milhões de aves de criação), mas neste caso, não se concretizou a 3.ª condição para a pandemia: o vírus não adquiriu a capacidade de transmissão eficaz de pessoa a pessoa.
O problema atual tem origem numa família de vírus diferente, o coronavírus, assim chamado por apresentar uma coroa (envelope) em redor da sua substância proteica e sofre mutações que o torna mais perigoso. Provoca constipações simples, mas também pneumonias atípicas como o MRS (médio oriente em 2012) e o SARS que surgiu na China no final de 2002, e afetou mais de 8000 pessoas em 29 países, com uma letalidade de 10%.
Este coronavírus (batizado de covid-19), de acordo com o relatório da OMS de 15/02 afetou já um total de mais de 67 000 pessoas em 25 países, tendo-se verificado 1 526 mortes, o que coloca a taxa de mortalidade em 2.3%. O problema é no momento um caso de emergência de saúde pública global (declaração da OMS). Como enquadramento, a gripe sazonal tem regra geral uma letalidade de 1/1000.
Em Portugal, a DGS planeou diferentes cenários pandémicos em várias fases, e recomenda que as organizações dos setores publico e privados elaborem planos de contingência para conter o contágio interno nas empresas e órgãos públicos e minimizar a disrupção social e económica.
Como deverá uma cadeia de retalho alimentar preparar-se para a gestão duma crise epidemiológica?
O primeiro passo será a criação do seu próprio plano de contingência e de gestão de crise, que aborde as áreas de cliente, colaborador, operações de lojas e armazéns e fornecedores entre outras, em que destaco áreas primordiais da atividade.
Áreas primordiais da atividade:
Numa crise deste tipo, deverão antecipar-se novos comportamentos de compra:
A empresa tem ao mesmo tempo de preparar a gestão dos seus colaboradores. Numa crise desta natureza, muitos deles irão ficar doentes, ou com familiares doentes, e o fecho de escolas por si só irá contribuir para o aumento do absentismo.
Deverá prever-se:
A gestão de fornecedores será também vital. Estes, irão deparar-se com as mesmas questões na sua cadeia interna, logo será necessário definir quais serão os parceiros estratégicos para um conjunto de produtos críticos, e quais os fornecedores alternativos (de backup).
Será igualmente importante, numa situação de emergência deste tipo, estabelecer acordos de cooperação com outros distribuidores, para que a cadeia de abastecimento alimentar continue em funcionamento nas zonas que serão declaradas de maior risco.
O tema, pela sua complexidade e abrangência da cadeia de abastecimento da empresa, certamente que não se esgota nestes tópicos.