Artigo por Pedro Queiroz Diretor-Geral da FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares |
À luz dos esforços que a União Europeia tem vindo a desenvolver para ajudar a garantir o fornecimento suficiente de energia, a preços acessíveis, para as famílias e empresas durante o próximo inverno, a indústria alimentar e das bebidas, através da sua confederação FoodDrinkEurope, escreveu à Presidente da Comissão, Ursula Von Der Leyen, e ao Primeiro-ministro da Chéquia, Petr Fiala, que detém a presidência do Conselho, expressando a sua preocupação relativamente às potenciais implicações na produção de géneros alimentícios caso a crise energética não seja contida por (mais) medidas de emergência e de estabilização destinadas a este sector no curto prazo.
Nos últimos meses, a fileira agroalimentar europeia tem trabalhado incansavelmente para ajudar a evitar uma crise de abastecimento, tal como já havia acontecido durante a pandemia Covid.
Embora a invasão do território ucraniano pela Rússia, tenha trazido os graves impactos já amplamente discutidos, mais uma vez esta fileira tem conseguido, com enorme esforço, travar (até agora) a falta de alimentos.
No entanto, a profunda incerteza energética que hoje vivemos – em termos de disponibilidade e custos – está a colocar uma enorme pressão sobre a produção agroalimentar, elevando os níveis de risco de escassez e, consequentemente, de agravamento dos preços em todo o espaço comunitário. Com o aproximar do inverno não se antecipa nada de bom!
Além de taxas de inflação historicamente elevadas nas principais categorias de custos, tais como matérias-primas agrícolas, ingredientes, embalagens e logística, entre outros, surgidas ainda durante a pandemia, a crise energética de hoje está a tornar cada vez mais desafiante para as empresas o planeamento e a previsão da oferta/procura, a gestão dos custos e, mais grave ainda, a continuidade da própria produção.
Perante este cenário, as diversas associações europeias da fileira agroalimentar, apelaram à Comissão Europeia e aos Estados-Membros que reconheçam, de forma clara e inequívoca, a produção alimentar como “socialmente crítica”, dando-lhe prioridade em termos de acesso à energia, minimizando os riscos de ruturas ao nível do abastecimento.
Este estatuto especial não é uma novidade e foi vital durante a pandemia, tendo como principal exemplo a criação dos “corredores verdes”, sem os quais a Europa teria enfrentado um cenário ainda mais grave.
É de salientar o facto de a Comissão Europeia ter reconhecido recentemente a essencialidade da alimentação na sua comunicação “Save Gas for a Safe Winter“. No entanto, justifica grande preocupação que tal referência não tenha sido incluída na proposta de regulamento do Conselho relativa a uma “intervenção de emergência para fazer face aos elevados preços da energia”, apresentada recentemente.
A produção alimentar é, por definição, intensiva em energia, uma vez que recorre a processos como aquecimento, arrefecimento e congelação num ciclo contínuo.
Por esta razão, se o sector alimentar e de bebidas tiver de cortar eletricidade durante as horas de ponta, pode ter graves consequências para a segurança dos alimentos, aumentar o desperdício e – em última análise – limitar a disponibilidade.